A LIBERDADE DOS FILHOS DE DEUS
Somos livres para a vida e não escravos para a morte!
“Como
filhos obedientes, não moldeis a vossa vida de acordo com as paixões de
antigamente, do tempo de vossa ignorância.” (1 Pd 1, 14) Esse termo usado pelo
autor sagrado na primeira carta de Pedro, exorta ao ouvinte da Palavra a rever
o seu conceito de “viver dignamente a sua vida”, de acordo com o princípio
eterno de Amor. Ele convida ao ouvinte a viver segundo os preceitos cristãos e
não mais de acordo com a caducidade da sua vida passada, como pagão.
Uma
das maiores dificuldades da nossa vida é viver plenamente a nossa vocação de
liberdade. Ao nos criar, Deus nos deu como direito irrevogável a condição de
sermos totalmente livres. Está inscrito em cada um de nós essa forma de vida,
onde nem mesmo o nosso Criador pode interferir, tanto que Ele permitiu que Adão
e Eva cometessem o primeiro pecado, aquele que foi capital para a nossa queda. Ao
escolher dar ouvidos às manobras da serpente, Eva abriu-se ao desejo de se
igualar ao Criador, sem saber que esta escolha dava fim ao perfeito
relacionamento com Deus. A partir deste momento perdemos totalmente a
capacidade para discernir a verdade da mentira, e viver plenamente a nossa
natureza humana.
Portanto,
para podermos entender e acreditar que não somos mais capazes de viver plenamente
a nossa natureza, precisamos rasgar o nosso coração e permitir com toda a nossa
liberdade que Deus mostre tudo aquilo que a cortina do pecado original esconde
de nós. Não basta simplesmente saber que somos pessoas humanas diferentes de
todas as outras criaturas, mas viver a dignidade de filhos de Deus, pois somos
a única criatura que conhece a sua natureza e também o seu Criador. Não
nascemos como as outras criaturas, que apesar de possuírem inteligência vivem a
sua natureza através de seus instintos. Agem instintivamente de forma
repetitiva sem mudar a sua razão natural, pois não são capazes de acrescentar
nada à sua condição original.
Diante
da nossa queda, perdemos a nossa razão natural e passamos a viver completamente
fora da nossa natureza original, coisa que não acontece com nenhuma outra
criatura deste mundo. Cada qual vive a sua plenitude natural sem que nada possa
atingir a sua natureza. Cada animal vive perfeitamente a sua natureza em
harmonia com o Criador. Vivem da forma como Deus quis e criou. Nós, ao
contrário, não somos mais como Deus projetou, nas cada qual se vira como pode e
deseja. Com isso, “o mundo” se concedeu no direito de fazer o homem obedecer
aos seus princípios e caprichos, tirando dele a noção exata do que significa
liberdade.
Os
princípios do mundo são de fazer o homem se projetar para atingir seus desejos
e realizar seus sonhos, sem dar razão à sua dignidade de filhos de Deus, pois o
mundo não se submete à vontade de Deus, mas aos prazeres gerados pela mente
humana ferida pelo pecado. O homem não sabe bem o que deseja e nem sabe
distinguir se são desejos são bons e da parte de Deus. Muitas vezes criam
desejos que não vão dar vida, mas levam para a morte, mesmo sem saber que esse
será o fim. O homem perdeu totalmente a noção de fazer o bem, para si e para os
outros. Nem mesmo com toda a sua boa intenção, com todos os seus esforços, com
toda a sua inteligência, com todo o seu entendimento será capaz de fazer o bem
que precisa fazer!
Não
é exagero esta afirmativa, pois não somos realmente capazes de fazer o bem que
precisamos fazer através de nós mesmos. Existe em nós o desejo de fazer o bem,
mas não somos capazes de fazê-lo. Na verdade, não somos totalmente livres para
fazer o bem! “O que houve é que o pecado, aproveitando a ocasião oferecida pelo
preceito, me seduziu e acabou me matando. (...) De fato, não entendo o que
faço, pois não faço o bem que quero, mas o que detesto. Ora, se faço o que não
quero, estou concordando que a lei é boa. No caso, não sou eu que estou agindo,
mas sim o pecado que habita em mim.” (Rm 7, 8. 15-17) A lei, no caso, se tornou
o fundamento da moralidade humana imposta pela perda da razão natural.
Como
vemos, o pecado tirou de nós o desejo de fazer das nossas ações aquilo que faz
bem para os outros, para as outras criaturas e também para toda a natureza. O
pecado gerou em nós uma nódoa no coração, onde tudo que fazemos, por melhor que
sejam as nossas intenções, busque no fim o nosso próprio benefício. Que sejam
nós mesmos os beneficiários das boas ações. No entanto, como não sabemos o que
seja bom, aquilo que achamos fazer bem para os outros, será um mal para nós. Que
luta!
Portanto,
entra nesta parte aquilo que o autor da carta de Pedro deseja falar aos nossos
corações, pois o que ele deseja é que vivamos como homens novos e não mais como
velhos, antes de Jesus. Antes de Jesus, vivíamos conforme os nossos instintos
feridos pelo pecado, mas agora somos portadores do Espírito Santo recebido no
batismo, onde Ele, como o novo direcionador da nossa vida nos capacita a sermos
homens e mulheres novos, muito melhores do que eram Adão e Eva. Obedecendo ao
Espírito Santo e não mais ao nosso instinto, o mundo, as pessoas e todas as
outras criaturas tomam outro sentido, o verdadeiro sentido. As nossas
faculdades são novamente ordenadas e passamos a entender verdadeiramente a
nossa liberdade.
A
vida nova no Espírito nos faz homens novos e de novas atitudes. O mundo com a
sua maldade e seus atrativos não mais terá soberania sobre nós, fazendo da sua
falsa liberdade uma prisão escondida. As artimanhas do mundo sem Deus não
aprisionará a quem está sob o regime do Amor e sob a Luz de Jesus. Para isso,
não basta ser batizado, é necessário viver em comunhão com o Espírito Santo nos
doado. Esta é a condição para dar vida nova ao homem velho!
Que
sejamos dóceis a todas as manifestações do Espírito Santo, pois elas nos
remetem a caminhar
nas pegadas de Jesus. Pedimos a intercessão da Virgem Maria,
aquela que aceitou com humildade, obediência e fidelidade à manifestação do
Espírito Santo desde a sua concepção. Que sejam dirigidas a Deus Pai, a Deus Filho
e a Deus Espírito Santo todos os nossos esforços, a fim de encontrar Neles o
sentido da nossa vida e da nossa liberdade. Amém!
Deus
seja louvado e adorado!
Carlos
Alberto Batista – Comunidade Católica Pedras Vivas
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