TRANSFORMADOS PARA TRANSFORMAR
"Ninguém põe
vinho novo em odres velhos". (Mc 2, 22)
Estas palavras de Jesus fazem parte de uma resposta
que Ele deu aos escribas dos fariseus (mestres da lei), num momento em que
estavam à mesa na casa de Levi tomando refeição com alguns publicanos (cobradores
de impostos) e pecadores. Em dado momento, os escribas questionaram Jesus
porque seus discípulos não jejuavam como era a prática dos discípulos de João e
dos fariseus. Antes disso, já haviam falado que Jesus comia com publicamos e
pecadores, o que era completamente fora da lei e dos costumes judaicos.
Em
se tratando de responder com alegria e fidelidade tudo que Jesus quer falar aos
nossos corações, não se pode perder nenhuma oportunidade para ouvir atentamente
aquilo que Jesus ensina nos Evangelhos. Direcionando todos os nossos esforços e
a nossa inteligência para esta parábola acima, precisamos inicialmente entender
porque Jesus usou esta afirmativa: "vinho novo em odres velhos", para
responder aos fariseus sobre seus questionamentos. Também é bom saber que o
grupo que questionava Jesus nesta passagem o perseguia ferozmente em toda
a sua caminhada missionária. Sabemos que o vinho era a única bebida desta
época, onde a prática de tomar vinho nas refeições era, e ainda é até os dias
de hoje, um costume tradicional e cultural.
"Odres"
são vasilhas de couro confeccionadas com peles de animais. São muito usadas
como recipientes do vinho para armazenar vinhos e também serem levados em
viagens. Quando ficam velhos é comum é comum rasgar e estourar caso sejam
colocados vinhos novos, e ainda mudar o gosto e o sabor da bebida, por
isso Jesus usou esse detalhe para responder aos escribas da lei. Entrando no
contexto da resposta, existe nesta parábola aquilo que se esconde aos corações
de todos aqueles que se aproximam de Jesus apenas para questionar e duvidar da
sua Pessoa. Por isso vamos entrar de forma concreta nesta reflexão, a fim de
compreender o sentido oculto de cada palavra de Jesus: suplicando a Ele que nos
conceda sabedoria e luz para entendermos tudo que Ele deseja nos ensinar.
Jesus
enriquece seus ensinamentos fazendo comparações interessantes, buscando em
várias fontes a forma de encaixar na sua pedagogia aquilo que deseja mostrar.
Neste caso específico dos odres velhos, Ele faz uma comparação que poderemos entender
levando em conta aquilo que foi objeto de questionamento por parte dos escribas
da lei: o jejum dos fariseus e dos discípulos de João Batista, e o não jejum
dos discípulos de Jesus! Partindo desta realidade, vamos repetir na íntegra a
resposta de Jesus: "Podem os amigos do noivo jejuar enquanto o noivo está
com eles? Enquanto o noivo está com eles, não podem jejuar. Dias virão, porém,
em que o noivo lhes será tirado; e então jejuarão naquele dia. Ninguém faz
remendo de pano novo em roupa velha; porque a peça nova repuxa o vestido velho
e o rasgo aumenta. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; caso contrário, o
vinho estourará os odres, e tanto o vinho como os odres ficam inutilizados.
Mas, vinho novo em odres novos!" (Mc 2, 19-22)
Imaginamos
que Jesus confundiu completamente a razão e a inteligência daqueles homens que
eram tidos como mestres da lei. Como pode fazer uma comparação de
"jejum" com algo que aparentemente não tem nada a ver? Primeiro, Ele
vem com a história dos amigos do noivo não poderem jejuar enquanto estão com o
noivo. Logo depois, esta comparação da roupa velha e os odres velhos. Jesus é
mesmo "espetacular". A sabedoria do mundo é loucura para Deus da
mesma forma que a sabedoria de Deus é loucura para o mundo. É isso! Como não somos
discípulos dos fariseus e nem do precursor João Batista, precisamos entender
completamente em nossos sentidos tudo aquilo que Jesus esconde nesta parábola.
Para isso, confirmamos a nossa súplica: Senhor Jesus, abra a nossa mente,
ilumina a nossa inteligência, purifica o nosso coração e renova o nosso
Espírito. Amém!
O
noivo é Jesus, os amigos são os discípulos. Enquanto Jesus está com seus
discípulos, o jejum perde todo o sentido, pois o jejum precisa ter um sentido
de oferta que possa transformar em bem aquilo pelo qual se abstém. Os
discípulos deixarem de comer sem ter uma noção exata do ato de jejuar fica
vazio e sem sentido. Eles estão com Jesus, e o fato de jejuarem não muda em
nada o valor espiritual do jejum. O jejum não vai beneficiar a ninguém, nem a
eles mesmos, pois estar com Jesus é tudo que cada um mais precisa nesta
caminhada missionária com o Mestre. Neste caso, o jejum se tornaria apenas uma
prática, um costume. Quem pode dar e mostrar o verdadeiro sentido para o jejum
é somente o Espírito Santo, e Este nenhum deles ainda conhecia. Portanto, a
prática do jejum dos fariseus e dos discípulos de João, era apenas para mostrar
que estavam fazendo um sacrifício a fim de merecer de Deus o perdão, ou ainda,
ganhar de Deus algum benefício pessoal.
Na
prática, na lei religiosa e nos costumes dos homens, Jesus insere uma novidade
e dá um novo sentido acrescido de uma espiritualidade proveniente do seu
espírito, e não do instinto do homem ferido pelo pecado; bem como, os
fundamentos que transformam completamente a mentalidade humana. Nesta
perspectiva, precisamos buscar no coração de Jesus os meios que nos darão as
vias para o total entendimento. Certamente, para entender as parábolas de Jesus
é necessário estar completamente evolvido em sua divindade. Por isso:
"vinho novo em odres novos" precisa entrar em nossa mente na forma
que Jesus quis fazer a sua comparação.
Jesus
trouxe a Boa Nova, e com ela trouxe também o homem novo: Ele mesmo! Na verdade,
a pessoa de Jesus é novidade somente para nós, não para Deus. Jesus feito homem
é o homem perfeito tal e qual Adão e Eva antes do pecado. Portanto, sem essa
razão natural de ser humano perfeito, não somos capazes de entender a
humanidade de Jesus. Ora, estamos entrando num mistério sobrenatural onde as
nossas faculdades estão desconectada com a perfeição do homem Jesus. Ainda mais
sendo Jesus o filho de Deus, pois Ele conhece tudo que se refere à criação, a
criatura e mais ainda, o Criador!
Está
nesta complexidade a nossa maior dificuldade para o entendimento, mas não
podemos nos perturbar, pois Jesus não deseja esconder nada de nós, ao
contrário, deseja que todos nós participemos literalmente desta vida nova. Para
isso, não podemos nos apresentar como "odres velhos", como homens
velhos de antes, pois não poderemos suportar o que vier de novidade e
também ficaremos ainda mais confusos se misturados com a nossa
caducidade.
No
entendimento dos fariseus e dos seus mestres, aquele Messias que viria para
restaurar Israel conforme aprenderam nas Sagradas Escrituras, viria como um
poderoso para mudar todas as estruturas de domínio, mas nunca imaginavam que
viria para mudar a humanidade. Para eles, a lei era o sentido mais perfeito
para se chegar a Deus e por Ele ser aceito, além de obter Dele as suas necessidades,
mas não poderiam imaginar que Deus seria como um de nós. Para eles Deus
era alguém inimaginável de se ver e jamais poderia ser semelhante a um homem
com todas as suas características humanas. Por isso Jesus faz este paralelo com
a parábola do jejum. Para que jejuar se a pessoa que jejua segue a sua vida
sendo a mesma pessoa? Para que jejuar se a prática deste jejum não transforma a
pessoa que jejua e tão pouco faz desta pessoa o canal de transformação para as
outras pessoas? Este jejum de deixar de comer para mostrar que está jejuando
não tem nenhum valor para Jesus. O jejum verdadeiro é aquele que faz a
pessoa descobrir que pode ter domínio de si e ainda transformar este ato em
caridade. Quem deixa de alimentar o corpo, alimenta a alma. Alimentar a alma é
transbordar-se de vinho novo.
Que
Jesus nos dê sabedoria para abrir os ouvidos do nosso coração e poder ouvir
claramente a sua voz. Vem, Senhor Jesus!
Carlos Alberto Batista - Comunidade Católica Pedras Vivas
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