O PECADO PRECISA SER RECONHECIDO
“Tudo é permitido, mas nem tudo convém...
Para iniciarmos a reflexão sobre o tema
deste título, iremos mergulhar no Evangelho de João onde o Evangelista narra os
acontecimentos que serão fundamentais para o nosso discernimento. A princípio,
todos achavam que João era o Messias esperado, pois ele vivia como um verdadeiro
profeta e era reconhecido como um homem de Deus por todo o povo da Judeia. No
entanto, sabemos que a missão de João Batista era preparar o caminho para
Jesus. Nesta missão, constava o batismo da conversão, onde os batizados eram
mergulhados nas águas do rio Jordão como forma de arrependimento pelos pecados.
Numa certa ocasião,
João Batista passou a ser questionado sobre a sua verdadeira identidade, pois
os doutores da lei, os fariseus e os sacerdotes, começaram a perceber que ele
dava sinais que o identificava com um profeta de poder, tanto que eles achavam
que poderia ser ele o Messias esperado para restaurar Israel, ou Elias que
voltou, ou ainda algum outro profeta. Mas, “João respondeu: Eu batizo com água.
No meio de meio de vós, está alguém que não conheceis, aquele que vem depois de
mim, do qual não sou digno de desatar a correia da sandália”. (Jo 1, 26-27)
No entanto, o que vai
dar sentido ao que propomos refletir vem logo após este episodio que
aconteceria no dia seguinte. Estando novamente às margens do rio Jordão, João
Batista vê Jesus aproximar-se dele e diz: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo”. (Jo 1, 29) Notemos que João Batista foi incisivo, consciente
e firme ao referir-se a Jesus. Ele não usou outro termo para se referir a Ele,
mas somente a sua mais direta identificação: “que tira o pecado do mundo”.
Diante desta identificação, iremos buscar o melhor caminho para podermos
discernir os passos a dar e entender a nossa verdadeira dificuldade para sermos
verdadeiros discípulos de Jesus.
Podemos começar
refletindo sobre a firmeza de João Batista ao revelar Jesus sob a ótica
original, utilizando a verdadeira linguagem, sem subterfúgios e sem medo. Enquanto
todos esperavam um Messias libertador, cheio de poderes para transformar a vida
do povo de Israel e tirá-los das mãos dos romanos, ele mostrou que não veio com
esta perspectiva, mas para tirar o pecado do mundo. Isso mostra que a
verdadeira escravidão não está caracterizada pela vida do povo e das suas
dificuldades em viver sob o domínio romano, mas na escravidão do pecado.
Nos dias de hoje
Jesus se faz tão presente quanto aos tempos passados. Ele continua nesta mesma
missão de tirar o pecado do mundo. Somos batizados com a mesma água, mas
recebemos em nosso Batismo o que aqueles homens do Jordão ainda não recebiam:
Aquele Espírito Santo que somente Jesus recebeu ao entrar nas águas do rio
Jordão! Que coisa mais maravilhosa poderíamos desejar¿ Porque então somos tão
diferentes de Jesus em nossa caminhada pela vida¿ É por que não nos
arrependemos de nossos pecados. E porque não nos arrependemos do nosso pecado¿
Porque não os reconhecemos como pecado! Ah, que bom seria se todos nós fôssemos
fieis ao nosso batismo. Quem dera se déssemos o valor real Daquilo que Deus Pai
nos concedeu com seu Plano de Salvação. Quem dera se fôssemos corajosos como
tantos homens e mulheres que passaram a vida lutando contra o pecado e viveram
cada instante da vida levando às pessoas o anuncio de Jesus vivo. Quem dera se
todos nós acreditássemos que nossos pecados se transformam numa parede que
escurece a nossa alma e esconde a Luz de Jesus.
A rigor, não
precisamos mais sofrer pelo pecado, pois ele foi vencido pelo sangue de Jesus,
mas isso é assunto para outras reflexões. O que precisamos neste momento é
entender como seremos capazes de descobrir que estamos pecando. Esta reflexão
pode ter vários sentidos, mas vamos fixar apenas em uma que pode ser a via
natural da Santa Mãe Igreja. Para isso, precisamos nos conscientizar que está
vinculado à Igreja um poder de revelar a todos nós tudo aquilo que é da vontade
de Deus. Antes de sabermos o que é pecado, precisamos entender a nossa natureza
humana da forma criada por Deus. Tudo isso se revela em Sua Palavra expressa
nas Sagradas Escrituras, onde a Igreja usa de seus poderes para interpretar
segundo os valores sagrados.
Quanto a isso,
precisamos entrar totalmente na história da Igreja, não simplesmente cumprindo
os deveres e preceitos, mas “mergulhar pelas águas mais profundas”, onde quanto
mais entramos, mais precisaremos de Luz. Quanto mais parecemos saciados, mais
ficaremos com sede e com fome. É um verdadeiro mergulho num lugar que parecia
estar escondido, mas vamos percebendo que tudo é tão íntimo de nós. Em tudo e
em todos, nada fica escondido, pois a Luz se torna cada dia mais forte e vai
iluminando todo o caminho, e nada fica às escondidas. O pecado vai se tornando
tão claro que, quanto menor, mas visível se torna. É assim que precisamos
entrar na pedagogia de João Batista: ir ao encontro de Jesus, não para buscar
os benefícios, mas para matar o pecado em nós!
...Tudo é permitido,
mas nem tudo edifica. Ninguém procure satisfazer aos seus próprios interesses,
mas aos do próximo”. (1 Cor 10, 23-24) Assim se completa o texto da Carta de
Paulo aos Coríntios que citamos no início desta partilha. Estas palavras se
tornam o desafio maior para a nossa reflexão e discernimento, pois estão nelas
a Luz que ilumina a nossa mente e o nosso coração. Portanto, se torna
fundamental entendermos isso como a parte mais importante desta partilha, pois
ela pode mudar o rumo da nossa história. Lembremos que Paulo Apóstolo quis
dizer que tudo que fizermos para satisfazer somente aos nossos interesses, sem
estar neles inseridos os interesses de “todas” as outras pessoas, é pecado. Ou
seja, aquilo que é bom só para mim, contradiz a vontade de Deus!
Este é o sentido da
nossa vida: fazer a vontade de Deus, pois a vontade Dele, vivida e revelada
pela Santa Mãe Igreja, não significa peso algum, mas a perfeita ordenação da
nossa humanidade. Por isso pedimos a Ele, Pai, na força e fidelidade de Jesus,
e na perfeita comunhão com o Espírito Santo Revelador, que seja sempre a Santíssima
a presença viva neste mundo, pois a Luz ilumina os olhos da nossa mente e da
nossa alma, revelando a todos nós onde pisar para chegarmos à Gloria eterna!
Deus seja louvado e
adorado!
Carlos Alberto
Batista – Comunidade Católica Pedras Vivas
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