ACREDITAR SEM VER
"Acreditastes, porque me viste?"
Neste segundo domingo da Páscoa, celebramos o encontro de Jesus com seus discípulos, onde vamos entrar no mistério da fé, mistério este que faz cada um de nós se transformar na figura de Tomé. Antes de entrar na liturgia de hoje, vamos buscar uma explicação sobre o fundamento da fé cristã, escritas nas páginas sagradas da Carta dirigida aos Hebreus, que diz: "A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vêem. (Hb 11, 1)
O que poderíamos encontrar de melhor para entrar na profundidade do Evangelho? Estas palavras vão ao encontro do coração de Tomé, onde este encontrou-se perdido dentro de si mesmo. Podemos lembrar que precisamos nos colocar dentro de cada passagem bíblica, transformando-nos em protagonistas, e não como simples leitores. Neste caso, somos chamados a ser o Tomé desta história.
Em sua primeira aparição depois de ressuscitado, fatos narrados na primeira semana da Páscoa, coube a Maria Madalena ser o instrumento para podermos fazer uma comparação com as outras aparições de Jesus aos seus discípulos, e da forma como estes reagiram seus amigos escolhidos a dedo por Ele. E como pudemos notar, Jesus não escolheu os tido como melhores.
Ficou claro para nós que Maria Madalena não foi visitar Jesus no túmulo esperando encontrá-Lo vivo, mas morto. Ela o amou e aquele gesto de ficar junto do amado seria a forma de mostrar a si mesma que estava amando alguém de verdade. Essa era a intimidade de Maria com Jesus, pois o fato de ter sido amada tão gratuitamente por Jesus, e com Amor que ainda não conhecia, fez com que ela amasse a Jesus com o mesmo Amor.
Portanto, é nesta pedagogia de Amor que precisamos entrar para entender a fé. Não amamos porque queremos amar. Amamos quando sentimos Amor. É sendo amado que somos seduzidos para amar. Entender a fé sem Amor, é como tentar explicar com palavras o aroma de uma flor. Por isso, não vamos viver a fé sem o Amor. Deus nos amou tanto, que até deu a vida de seu filhos por nós. É por este caminho de Amor que precisamos caminhar.
Voltando ao Evangelho, oito dias antes Jesus apareceu aos discípulos, mas Tomé não estava presente. Os Apóstolos o informaram disso, e como sabemos, Tomé falou que só acreditaria vendo com seus próprios olhos; mas ele foi ainda mais além: a pessoa que si diz ser Jesus, precisaria mostrar as marcas da crucifixão. São fatos para nos escandalizar? Creio que não! Pois, certamente, como podemos notar pelo mundo, não é difícil ver tanta incredulidade na presença real de Jesus aqui entre nós.
Acreditar naquilo que não vemos. Viver aquilo que não vemos. Possuir aquilo que não temos. Fazer uso daquilo que não pegamos. Mostrar aquilo que não pode ser visto. Esperar sofrendo, sem perder a esperança. Caminhar para a morte, na esperança da vida. Sorrir, onde tudo faz chorar. No escuro, ser a Luz. Na dor, amar. Na fraqueza, ser forte. Ter tudo, é não ter nada. Ganhar, é perder. Ajuntar, é gastar. Receber, é dar. Morrer, é nascer!
Foi tudo isso que Jesus ensinou aos Apóstolos e discípulos em sua ação missionária e no seu ministério. Foi assim que Jesus descreveu como sendo o Reino de Deus que seria instaurado neste mundo. Foi assim que Ele viveu aqueles anos aqui entre nós. Portanto, nenhum deles conseguiu entender por si mesmos esses ensinamentos, pois via apenas aquele Mestre realizar os milagres que conhecemos pelas páginas sagradas. Não vamos cair na tentação de achar que foi somente Tomé a não acreditar na ressurreição de Jesus, pois além dele, dos Apóstolos e discípulos, também cada um de nós vive esse dilema na presença real de Jesus aqui entre nós.
A fé não se baseia somente naquilo que acreditamos, mas naquilo que vivemos e fazemos da nossa vida. Sem buscar Jesus ressuscitado no rosto e na pessoa de cada um que vemos no dia-a-dia, seria como esconder os olhos ao crucificado. Sem sentir as dores da paixão de Jesus na cruz, querer viver a fé ficará somente buscar o nosso próprio bem. É como tentar viver a fé para nós mesmos. Sendo assim, seremos como Tomé, pois não estaremos nos lugares onde Jesus está; e quando alguém vier falar conosco que Jesus apareceu, não acreditaremos.
Na alegria deste nosso encontro de partilha, deixemos nos abrir à mensagem evangélica, onde Jesus nos dá a conhecer o melhor caminho para vivermos a sua divina presença: não deixarmos de estar unidos com nossos irmãos nas Assembleias Eucarísticas. Nos encontros de partilhas; nas orações cotidianas; no olhar de ternura; na paciência com os pobres e doentes. Enfim, não deixar de buscar no outro, o rosto de Jesus.
Deus seja louvado e adorado!
Carlos Alberto Batista - Comunidade Pedras Vivas
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