terça-feira, 9 de abril de 2013

FORMAÇÃO - PEDRAS VIVAS



  PORQUE PRECISAMOS FAZER A VONTADE DE DEUS?   

                                          
            "O senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden, para cultivar e guardar. O Senhor Deus deu--lhe uma ordem, dizendo: Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não deves comer, porque, no dia em que dela comerdes, com certeza morrerás". (Gn 2, 15-17)
 
                                                          Comemos e morremos!

             Poderíamos cair na tentação de achar que não somos culpados pela morte dos nossos primeiros pais e questionar com Deus o porque de nos ligar a eles, a ponto de morrermos como eles. Mas, nem tudo podemos compreender do mistério Divino. Deus teve suas razões para fazer da sua criação um ser único, e não individual como hoje achamos que somos.

Bom, para entrarmos na reflexão deste mistério, precisamos entender o que significa "árvore do conhecimento do bem e do mal", afim de abrir a nossa mente para dar sentido naquilo que Deus definiu como uma ordem, ou seja, não comer dos seus frutos. Na verdade, Ele não falou explicitamente para "não comermos", mas disse que "no dia que comerdes" morreremos. A princípio, podemos descobrir que nesta ordem Deus já mostra algo que é extremamente importante para nós: Ele não fere a nossa liberdade. 

Então, como entender o significado desta árvore do bem e do mal? Para entrarmos neste contexto, precisamos lembrar como foi que cometemos o nosso maior erro, que foi desobedecer a Deus! O que levou a nossa primeira Mãe, Eva, a mãe de todos os viventes, ser induzida a fazer aquilo que não era para fazer? Será que ela não poderia pensar mais e refletir melhor antes de cometer esse erro? O que poderia existir no Jardim para que ela fosse seduzida? O que seria então esta árvore do conhecimento do bem e do mal? É um mistério que podemos explorar com toda a força da nossa alma, e com toda a nossa inteligência.

Em princípio, precisamos considerar a linguagem poética do autor sagrado para explicar a caída do homem diante da vontade de Deus (primeiro pecado). Teologicamente, os exegetas (pessoas que fazem estudos profundos das Sagradas Escrituras) descobriram que o livro de Gênesis foi escrito no século primeiro, depois de Jesus, pois a sua linguagem já é do homem do campo, de um camponês .  Mesmo sendo a história da criação, não quer dizer que tenha sido escrita no início da criação, por isso esta certeza dos estudiosos. E todos os fragmentos das escritas mostram esta realidade. Mas, isso não é o mais relevante para buscarmos as nossas considerações. O que vamos explorar é o porque da "árvore". 

Quando o anjo desobedeceu a Deus e foi expulso para a terra, ele se tornou o inimigo mais feroz de Deus. Até então, Deus não tinha inimigos. Esse anjo conhecia as coisas de Deus e era muito íntimo Dele. Portanto, sabia de tudo de Deus. Lembramos que ele foi expulso porque não aceitou Deus criar o homem e, pior, à sua imagem e semelhança. Neste caso, ele só poderia ser anjo,  não seria Deus e nem tampouco homem, por isso ficou tão revoltado. Como podemos notar, parece-nos que ele já conhecia o bem e o mal. Diante desta realidade, este é  anjo que faz a figura da serpente, aquela que seduziu Eva. Por ser um espírito, o anjo entrou no coração de Eva e a fez pensar como este anjo. Então ela começou a imaginar como seria bom ser como Deus. O fato de estar no jardim do Éden, Eva comeu do "fruto" da árvore do bem e do mal, e conheceu o que não era para conhecer. Seu coração deixou de ser puro com antes.

Para entendermos melhor, somente Deus como o Criador de tudo e de todos, e não sendo Ele criado por alguém, pode saber o que é bom e o que é mal. Portanto, Ele não criou o homem e nem os anjos para viverem essas duas realidades, mas somente conhecer e viver o bem. Conhecendo o bem e o mal, o homem que não é Deus, não tem como viver essa duplicidade dentro de si. Daí o homem caiu diante da sua originalidade humana e perdeu a sua pureza, deixando como isso de ver a Deus e viver a sua vontade infundida em nossa perfeita humanidade. A desobediência de Eva não ficou somente nela, mas Adão também caiu nesta tentação, pois era com ela uma só carne. Diante disso, de Adão e Eva em diante, todos os seres nasceriam com este pecado enraizado dentro de si.

Entrando no contexto da nossa necessidade de fazer a vontade de Deus, entenderemos a razão pela qual Deus precisou realizar um projeto para salvar a sua criatura mais bela, pois de tão bela, Ele a criou tal como Ele é. Salvar a sua criatura, significa torná-la novamente em sua forma original, mas também veremos que Ele fez ainda melhor, pois tornou-a divina como Ele. 
Como o pecado tirou de nós a pureza que nos dava a condição de viver em conformidade com Deus e até vê-lo de face a face, Deus precisou desenvolver um meio para resgatar a nossa perfeita humanidade, sem contudo, mudar o que já tinha acontecido, ou seja, apagar o pecado. Ele não se deixa levar pela dor de ver seus filhos falharem em sua missão, mas tirará desse mal um bem infinitamente maior, assim, mostrará para todos nós que Ele sabe de tudo. 

Portanto, para nos dar a vida perdida e sermos novamente inseridos em sua conformidade, Deus decidiu usar as mesmas realidades que tornaram o homem pecador , como podemos perceber nesta sequência: tornou-se Ele mesmo num homem chamado Jesus, como filho, tal e qual somos cada um de nós. Encarnou-se e nasceu sem o pecado original, gerado numa humanidade, a saber, da Virgem Maria, esta, também nascida misteriosamente sem o pecado original. Durante um tempo, viveu como homem comum junto com um povo que Ele já havia escolhido para fazer deste povo uma nova criatura, que é o povo de Israel. Durante o tempo em que viveu como um homem comum, Deus experimentou e sofreu todas as nossas realidades, mas só não cometeu pecado algum que lhe tirasse a divindade. Morreu de verdade pendurado num madeiro, fazendo uma ligação com a árvore, que dá a madeira. 

Em seu projeto de salvação, Jesus precisaria conscientizar o homem de que Ele era o Salvador, pois desde os mais antigos tempos, o povo de Israel já ficara sabendo que Deus mandaria alguém para se tornar rei e transformar toda a terra. No entanto, este povo não aceitou que o Salvador poderia ser alguém tão simples, pobre, humilde, filho de gente que não tinha estudo e nem posses. Não poderiam acreditar num homem que veio com uma proposta de salvação totalmente fora da lei, dos costumes e das suas tradições, mas esperavam alguém cheio de poder e fosse ainda mais fiel em suas leis. Contudo, eram eles que não sabiam fazer um bom uso da lei, pois procuravam cumpri-las somente para tirar proveitos. Era cada um para si, e os outros que se danem, podemos assim dizer.

A missão de Jesus não foi apenas mostrar que era o Messias, o Salvador, o novo Rei de Israel, mas sobretudo, mostrar ao homem a sua verdadeira identidade. Jesus veio mostrar Nele mesmo o verdadeiro homem. Seus pensamentos e suas ações seriam a referência do verdadeiro homem criado pelo Pai. Nele, Deus Pai mostrou tudo que precisamos para voltar a vê-Lo com nossos olhos. Por isso Jesus disse a Filipe: "quem me vê, vê o Pai" (Jo 14, 9). Resgatar a nossa humanidade, foi essa a primeira missão de Jesus. 

Por isso, quando somos chamados a fazer a vontade de Deus, expressa nas Páginas Sagradas, elas nos fazem doer a alma, pois contradiz totalmente a nossa realidade de vida. Não somos capazes de suportar com naturalidade aquilo que o Senhor Deus nos dá como sendo bom para nós. Achamos ser bom para Ele, mas não para nós. Não nos convencemos de que somos capazes de cumprir aquilo que Ele pede, pois tudo foge da nossa capacidade de realizar. Neste caso, obedecer à vontade de Deus não faz parte da nossa humanidade. Claro, não somos mesmo capazes de nada! Se fôssemos capazes de fazer a vontade de Deus, Ele não precisaria de nenhum plano de salvação, bastaria confiar a alguém esta tarefa. 

Portanto, neste ponto está tudo aquilo que precisamos para entender tudo isso que lemos e partilhamos: tudo se resume em aceitarmos que realmente estamos perdidos sem Deus. Tudo se faz compreender a partir do momento que nos conscientizarmos de que somos pecadores, e o pecado faz matar a nossa natureza. Não existe outro meio, pois cada um de nós precisamos aceitar e decidir querer voltar para Deus, como filhos que somos. Enquanto a gente não se conscientizar da nossa morte pelo pecado, não poderemos entender o que Deus fez em Jesus para nos dar a nova humanidade. Não é possível fazer a vontade de Deus, sem saber exatamente que a vontade Dele não é boa para Ele, mas para nós. Quando Ele pede para fazer a Sua vontade, o que Ele quer dizer com isso, é que na vontade Dele está o nosso novo homem, a nova mulher. 

"Buscai as coisas do alto e não as coisas da terra, pois vocês estão mortos e a vida de vocês está escondida com Cristo, em Deus." (Cl 3,3) Esta é a dura Palavra que o Apóstolo Paulo nos deixou através da Carta aos Colossenses. É duro para nós entender que estamos mortos, apesar de acharmos que estamos vivos. É duro não saber como deixar de viver as coisas da terra, coisas que vemos com nossos olhos, e passar a buscar as coisas do céu, coisas que não vemos. Coitado de nós! Convencer a nossa natureza pecadora de que é melhor para nós viver de esperança, das coisas que não vemos, do que viver das realidades vistas por nós neste mundo, não é tarefa nada fácil. Quem nos ajudará nisso? 

Aí está a segunda missão de Jesus: Ele conviveu, ensinou e deu ordens para um grupo escolhido por Ele durante a sua vida e missão enquanto esteve aqui entre nós. Jesus preparou uma duzia de homens para continuarem a fazer o que Ele começou. Para a missão salvífica de Deus dar certo, homens como nós precisariam experimentar e viver tudo aquilo que Jesus experimentou e viveu. Homens pecadores e sem nenhuma instrução, esses foram os escolhidos. A eles Jesus deu uma missão: fundar uma Igreja. Não mais um Templo, onde a presença de Deus se daria através de um ritual, mas uma Igreja cuja presença de Deus é real, pois todo o povo reunido se torna Jesus vivo entre nós. A esta Igreja, Jesus daria a missão de gerar frutos, não mais os frutos da árvore da morte, mas da árvore da vida.

A Igreja fundada pelos Apóstolos se faz presente ainda hoje e se tornou a fonte viva da nossa salvação. Não existe nenhum outro meio para que possamos nos salvar. Não existe outro meio para que possamos voltar a ser como Deus nos criou. Deus fez da Igreja a sua presença. Jesus é a própria Igreja e nela está o depósito da nossa fé. No entanto, este mistério não será permitido se revelar a quem não aceitar e conscientizar-se de que é pecador. Não se vê Jesus com os nosso olhos de pecado, mas O veremos com a pureza do nosso coração. Por isso somos chamados a fazer a vontade de Deus, pois o desejo Dele é que vejamos Jesus e, assim, possamos desejar vê-Lo quando partirmos deste mundo. 

Estamos na terra, mas a nossa pátria definitiva é o Céu! Vamos lá...!


Deus seja louvado e adorado!

Carlos Alberto Batista - comunidade Pedras Vivas
        

Nenhum comentário:

Postar um comentário